segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Custódia - A hora do Sertão (TV Globo Nordeste)


Reportagem nº 01
Exibida dia 14 de fevereiro no NETV 
2ª Edição mostrando que obras como a Transnordestina e a Transposição do Rio São Francisco mudaram a realidade da região. 


A reportagem começa em Salgueiro, exatamente no ponto onde as duas obras se cruzam. A construção dos canais que vão levar água do rio São Francisco a quase 400 municípios do nordeste teve início há três anos e meio. Já a estrada de ferro da Transnordestina começou a mudar a região muito antes de ficar pronta. As mudanças começaram há um ano, quando a construtora se instalou no local. “O crescimento, esse aquecimento da economia da nossa cidade chama-se prosperidade”, comemora Socorro Borba, dona de um hotel em Salgueiro.

Nas cidades vizinhas, o efeito é o mesmo. “Com certeza é um oásis aqui no Sertão. Essa chegada da transposição e a Transnordestina trouxe um grande avanço para Serra Talhada e região”, lembra o microempresário Elias Félix.

“Tenho boas chances de crescer, sim, até porque desde o dia em que eu cheguei aqui as chances foram aparecendo, as oportunidades foram aparecendo e em meio a tudo isso, no meio dessa multidão, com certeza tenho muitas chances de crescer. É só saber aproveitar a chance”, diz o carpinteiro Thiago Bruno Costa

Os canteiros de obras se multiplicam. Só a Transnordestina já tem 25 espalhados na caatinga. É deles que vai surgir o caminho da exportação do minério de ferro, do gesso e de outros produtos da região, como os agrícolas.

Em dois anos e meio, se não houver imprevisto, todos os trilhos estarão enfileirados. Isso rasgando todo o Sertão. A ferrovia deve se estender por 1.728 quilômetros unindo a caatinga ao mar. A Transnordestina vai ligar a cidade de Eliseu Martins, no Piauí, a dois portos: o de Pecém, no Ceará, e o de Suape, em Pernambuco. 

O trabalho avança, não somente no caminho onde vão passar os trens, mas também na fábrica de dormentes, em Salgueiro. Ela abastece a obra com a produção de 4,8 mil dormentes por dia. Já os trilhos, vêm da China.

As construções no Sertão são importantes para o Governo, diz o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e dá uma garantia disso. “A palavra da presidente Dilma. Ela pediu para eu vir aqui para poder assegurar prioridade absoluta, total, ao cronograma de execução das obras da transposição e da Transnordestina”, explica.

TRANSPOSIÇÃO
A transposição do rio São Francisco também tem data para inauguração dos dois canais. O chamado Eixo Leste vai captar água na barragem de Itaparica, no município pernambucano de Floresta, e percorrer 220 quilômetros até o rio Paraíba, deixando pelo caminho água em várias localidades. O Eixo Norte vai fazer a captação perto da cidade de Cabrobó, em Pernambuco. E ao longo de 426 quilômetros vai levar água ao Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.

“O Eixo Leste vai ficar pronto no final de 2012 e o Eixo Norte vai ficar pronto no final de 2013”, afirma Fernando Bezerra Coelho.

Para o trabalho, as construtoras precisaram contratar quase 20 mil pessoas até agora. E isso mudou radicalmente o mercado de trabalho da região. “A grande dificuldade nossa aqui hoje é ter pessoas qualificadas tanto pra trabalhar com caminhões e máquinas. Como é uma região carente em vários aspectos, pela quantidade de máquinas que a gente trouxe para região, é um dos nossos desafios hoje, que a gente está com um programa de treinamento intensivo pra suprir essa necessidade”, diz o engenheiro mecânico Jacob Rachid.

O trabalho é dia e noite. Cássia Aparecida Figueirede conseguiu vaga no turno que vai até de madrugada como ajudante de apontador. Ficou oito meses desempregada depois que a lanchonete que tinha faliu. “Aqui eu estou prosperando, estou ganhando melhor, estou podendo suprir todas as necessidades. Aqui eu estou podendo ter a chance, como agora eu estou treinando para ser apontadora.”

Cássia convive com muita gente mesmo de Salgueiro, e também com muitos colegas que a empresa trouxe de fora. Entre eles, Alan Costa Queiroz, que veio de Salvador. Para rabalhar como técnico de eletricidade. “Por motivo de crescimento, conhecimento na área profissional, já trabalhava em empresa, exercia outra função, então eu vim para minha área de técnica em elétrica.”

Em Custódia, por onde também passam as obras, o progresso chegou de forma veloz. E mão de obra é difícil de encontrar. Aquele tempo em que o sertanejo precisava arrancar da terra milho e feijão, quando chovesse, não se parece em nada com o que se vive hoje. No restaurante, há dificuldade para contratar garçons.

“Na realidade, houve uma evasão muito grande em termos de empregos locais por conta do advento da transposição e da Transordestina, nós tivemos dificuldades. Custódia já merece ter uma faculdade para otimizar a mão de obra, para facilitar o acesso das pessoas que querem ter uma graduação, porque hoje o que acontece é que as pessoas vão para Serra Talhada, para Arcoverde. Então está na hora de Custódia cuidar da formação das pessoas aqui”, revela a administradora do restaurante Fátima Melo.

A enorme ampliação de vagas de trabalho gerou um movimento inverso ao de décadas passadas. Na mesma estrada que leva para o Sudeste, a diferença é que agora não é mais o nordestino que sai daqui para lá. É gente de fora que vem na direção oposta. O que esse pessoal vem fazer aqui? O mesmo que os nordestinos faziam lá fora. Vem buscar oportunidades.

A engenheira Samira Polastre é um exemplo. Ela veio de São Paulo ao aceitar o convite para trabalhar no Sertão do nordeste e não se arrependeu. “No começo eu fiquei um pouco assustada porque não sabia o que eu ia encontrar por aqui, mas assim que eu cheguei tive uma surpresa muito positiva. Eu me sinto bem. As pessoas aqui são muito receptivas, é uma das coisas que eu mais gostei na região, é a hospitalidade do povo. Então não tem motivo para querer ir embora.”

Na terça-feira, a série mostra como foi a chegada dos forasteiros na construção de um Sertão melhor.

Reportagem nº 02 - Exibida no dia 15 de Fevereiro.

Oportunidades geradas pela Transnordestina e pela transposição do rio São Francisco atrai gente de todos os pontos do Brasil 

Jailton é eletricista e morava em Alagoas. Genildo é motorista de veículo pesado e veio da Paraíba. Afrânio trabalha como auxiliar técnico de elétrica e saiu da cidade de Major Isidoro, em Alagoas. Maurício deixou Itumbiara, em Goiás, para trabalhar como eletricista. Marco Aurélio da Silva é armador e deixou para trás o Rio Grande do Norte.

Todos eles deixaram para trás a cidade natal e a família para trabalhar no Sertão. Um Sertão que deu certo, como mostra a segunda reportagem da série do NETV 2ª Edição. Esses ‘forasteiros’ são parte do batalhão de quase 20 mil pessoas que trabalha na construção da ferrovia Transnordestina e nos canais da transposição do rio São Francisco.

Muitos vieram de perto, mas também há gente que viajou muito mais para arranjar um cantinho neste novo Sertão. Como foi o caso do gaúcho Marco Furini, coordenador de programas ambientais. Profissional experiente, há seis meses ele divide com mais cinco colegas uma república em Salgueiro. Vai para casa uma vez por mês e fez a escolha por motivos claros.

“Oportunidade de trabalho, oportunidade de agregar mais ao currículo da gente, ferrovia, uma das mais importantes hoje no País sendo construída e o conjunto disso faz a gente vir participar de um momento muito importante aqui no Nordeste”, conta o gaúcho.

Antônio Carlos Lepiane, paulistano, chegou há um ano e dois meses para trabalhar como gerente de equipamento. “Eu tinha uma imagem pouco pior do que seria trabalhar no Sertão. Recife é uma capital, tem todos os recursos. Eu trabalhei lá também no ano passado, não foi uma surpresa, mas aqui no Sertão o que está mostrando é um pouco, eu acho, o retorno das pessoas que um dia saíram daqui e que hoje estão voltando. Isso está sendo uma surpresa agradável pra nós.”

Josefa Araújo Silva é uma das pessoas que voltaram. Foi tentar a vida em São Paulo. Voltou para Verdejante, onde nasceu, quando o Sertão começou a ser transformado. Nunca foi garçonete, mas fez um curso do Sebrae e agarrou a vaga com vontade. “Agente se acostuma né, a trabalhar, ganhar o nosso dinheirinho, conquistar algumas coisas de certa forma material, né? E acho que traz medo para qualquer pessoa ficar sem isso. Já comprei até uma moto.”

E é nesta moto que, todo dia, depois do expediente, Josefa dá carona a uma amiga. Está feliz. Ela mora a 30 quilômetros de onde trabalha. Dorme em casa todo dia, mas a quantidade de gente que vem de longe obriga as construtoras a fazer manobras para conseguir abrigos.

“Hoje nós temos vários alojamento. Tem alojamento até dos executivos. Tem alojamento para mulheres, são muitas mulheres que trabalham aqui na Transnordestina que vieram de fora e foram preparadas, técnicas, engenheiras, operadoras”, destaca o diretor-presidente da Transnordestina, Tufi Daher Filho.

Entre as pessoas que trabalham na Transnordestina, há 3,6 mil em repúblicas, pousadas, hotéis e alojamentos. Em Salgueiro, vilas inteiras foram alugadas. “O começo foi muito complicado porque a cidade não tinha estrutura nenhuma, então a gente teve que arrumar muita casa, a gente alugou um hotel inteiro e transformou muito a região no sentido econômico’, recorda o gerente de infra-estrutura da construtora responsável pela obra, Alexandre Biselli.

Com o crescimento da procura, os preços dos alugueis foram parar nas alturas. “A casa que eu moro hoje em dia subiu 200% do valor. A casa custava R$ 150 e hoje está R$ 350, quase 200% de reajuste”, conta o técnico de elétrica, Alan Costa Queiroz.

Alojamentos foram levantados. E só nas obras da Transnordestina são 27, abrigando quase 1,7 mil pessoas. Os contêineres, que podem ser levados para onde a obra migrar, têm sido uma solução. Os operários só vão para casa a cada quatro meses. 

E para aproveitar os momentos de folga, foi criada até uma área de convivência. O local fica junto dos dormitórios e as atividades semanais são diversificadas. “Toda segunda-feira a gente antecipa a programação, onde a gente tem sessão de cinema, a gente tem missa, tem culto evangélico. A gente procura sempre intercalar missa numa semana e culto evangélico na outra. Temos apresentações culturais, tentando valorizar os artistas da região”, diz o assistente social Rodrigo Guimarães de Lucena.

Tem até uma banca: Beijo Love – Despertando Emoções. Os músicos são parentes do pedreiro José João. Ele é o autor das músicas. “Eu estou trabalhando aqui, certo que eu estou focando o meu trabalho, mas de repente surge uma melodia, uma letra. Quando eu estou sem o celular eu já peço de um amigo e gravo... depois eu pego e faço a música.”

E enquanto constrói o futuro de muitos sertanejos, João josé sonha em fazer sucesso com o grupo. Ser conhecido nas rádios sertanejas. No alojamento, já tem público cativo.

Nesta quarta-feira, a série mostra uma gente que descobriu que podia ganhar dinheiro no Sertão sem ter necessariamente que trabalhar nas obras.

Reportagem nº 03 - Exibida no dia 16 de Fevereiro.

Restaurantes cheios, hotéis e pousadas lotados e a procura por imóveis cresceu; esse é o novo retrato da região.

Hotéis lotados, restaurantes cheios e uma procura desenfreada por imóveis. Esse é o novo retrato da região sertaneja de Pernambuco que você vai ver na terceira reportagem da série sobre o Sertão que está dando certo, exibida pelo NETV 2ª Edição.

Em Custódia, de repente, os terrenos estão sendo cercados, medidos, divididos. A cidade agora está cheia de loteamentos - e num município que nem corretor de imóveis tem. Na falta de um, Eli Pinto Barbalho (foto 2), dono da farmácia, se aventurou a cuidar do assunto. Fez muitos arranjos para abrigar os trabalhadores que chegavam de fora e precisavam de um teto e agradou o morador da cidade que precisava reforçar o rendimento.

“Existiam casos em que a mãe foi morar com o filho, com os filhos ou então os filhos foram morar com a mãe, o casal, para formar essa renda, tudo para ficar com a casa liberada para alugar. Outros foram morar no sítio para arrumar uma renda, aconteceram vários casos de pessoas que botaram casa para alugar na cidade”, conta o corretor novato.

Em Serra Talhada, o mercado de imóveis também está aquecido. Na cidade, além das obras da transposição do rio São Francisco e da ferrovia Transnordestina, a chegada do campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco (foto 3) também fez crescer a procurar por casas. Para acomodar os novos tempos, a cidade cresce para cima e vai fazendo amizade com o elevador. Os prédios estão surgindo, porque o mercado exige apartamentos, muitos apartamentos.

Elias Félix (foto 4), comerciante, não perdeu tempo. Construiu pequenos edifícios, com apartamentos de 50 metros quadrados - para quem mora só. Já tem o terreno onde vai começar a erguer o terceiro prédio. E elegeu como inquilinos preferenciais os professores da Rural. “Para alugar é facílimo; mas comprar terreno está bastante caro, superfaturado até. Está bastante onerado o preço”, diz ele.

Outra dificuldade: conseguir hospedagem em hotéis e pousadas. Em Custódia, por exemplo, está mesmo difícil e o único hotel da cidade que não fechou contrato com nenhuma construtora, que fica na BR-232, está lotado todos os dias. Para conseguir uma vaga, só fazendo reserva com uma semana de antecedência, e formalizada por e-mail. “Nossos clientes aqui são os engenheiros das obras, as prestadoras de serviço, os demais que prestam serviço e tudo termina em cima da obra”, explica o gerente do hotel, Gildeano João do Nascimento.

Também na beira da estrada, um outro hotel já se preocupou com a ampliação. Os 68 apartamentos estão alugados a uma construtora, num contrato de um ano. O dono tem também um restaurante, que fornece 800 refeições por dia aos operários. 

Para atender a demanda, o dono do hotel, José Pedro de Melo, contratou 30 funcionários. Ele vê ainda mais crescimento no horizonte. “Eu quero ampliar, fazer um restaurante climatizado, montar um mercado, uma conveniência boa aqui na rodovia. Mesmo quando sair, eu tenho certeza que vai ficar bom para gente ainda”, acredita ele.

Em Salgueiro, novas pousadas vão surgindo - e há espaço para todas no mercado. Socorro Borba (foto 5), dona de hotel há 12 anos, acaba de construir 25 apartamentos, inclusive suítes de luxo. Agora o estabelecimento dela tem 57 unidades e é raro o dia em que não está com 100% de ocupação.

“Já teve caso em que eu tive que levar o cliente para dormir na minha casa, ou então, quando eu não tinha como levar, ele dormia dentro do carro na frente do hotel, depois de eu entrar em contato com todos os hotéis, inclusive hotéis das cidades vizinhas, como Ouricuri e Serra Talhada”, relembra Socorro.

A disputa por vagas é tão grande que quase estraga a lua de mel de Thiago Bruno Costa. Depois que começou a trabalhar na Transnordestina, resolveu se casar. Sem folga para viajar, resolveu impressionar a amada com uma estadia num hotel bacana de Salgueiro. “Dois dias antes, eu fui lá para ver, deixar tudo certinho, aquela coisa para o casamento como a gente deseja. Só que quando eu cheguei lá não tinha mais vaga. Todos os hotéis da cidade em que eu fui, rodei, procurei, até mesmo pousada, e não tinha mais nenhuma vaga.”

Apesar de tudo, é bom esclarecer que Thiago teve uma lua de mel bacana, está casado e feliz. Está tão satisfeito quanto Edmilson Torres de Sá - novo dono de restaurante na região, que chegou a passar por um sufoco. “Foi demais, viu? Foi empréstimo que quase não acaba mais. Mas conseguimos pagar e hoje eu acho que nós não devemos quase nada a ninguém”, festeja.

Na reportagem desta quinta-feira, veja como o crescimento de restaurantes dá sabor ao desenvolvimento do Sertão. Lá, agora, tem de tudo: de marmita a comida japonesa.

Reportagem nº 04 - Exibida no dia 17 de Fevereiro.

Grandes obras têm atraído investidores, mas como ficará a situação dos hotéis e pousadas após a finalização dos empreendimentos?


A procura por imóveis está cada vez mais crescente no Sertão de Pernambuco. Nas principais cidades sertanejas, os hotéis e pousadas estão lotados e as grandes obras – como a Transnordestina e a transposição do São Francisco - têm atraído construtoras dispostas a investir no setor hoteleiro.

Tanta demanda por leitos vem causando uma preocupação nos investidores: como ficará a situação desses hotéis e pousadas depois que as grandes obras acabarem e a população que está acolhida no Sertão for embora?

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira (Abih), José Otávio Meira Lins (foto), afirma que o setor está preparado para esse momento. “A iniciativa privada é supercriativa e temos ideias para depois que esses projetos forem implantados e começarem a operar”, diz.

De acordo com ele, cerca de 10 mil leitos serão construídos no Estado. Para as regiões onde ficam as obras da ferrovia Transnordestina e a transposição do Rio São Francisco, estão previstos mil leitos. 

“Esses mil leitos estarão concentrados, basicamente, em Sertânia, Salgueiro e Petrolina. Aparenta ser pouco, mas o próprio empresariado do Sertão tem capacidade para ampliar os leitos com mais facilidade, pelo fato dos códigos de obras serem menos rígidos e exigentes”, explica.

Faltam leitos, também, no Complexo Portuário de Suape, na Região Metropolitana. Muitos trabalhadores precisam vir ao Recife e Jaboatão para conseguir lugar para se abrigar. Segundo José Otávio, a ausência de vagas vai “do Cais ao Sertão”.

“Vamos abastecer e nos preparar para quando todas essas indústrias estiverem implantadas. Nós vamos atacar em duas vertentes. Primeiro, a formação da mão de obra e capacitação de pequenos gestores. E também o Olá Turista, que vai ensinar inglês e espanhol, focada principalmente na Copa do Mundo”, diz.

CARNAVAL
Segundo José Otávio Meira, a maior parte das vagas dos hotéis e pousadas já está ocupada para o período de Carnaval. “Não adianta sair procurando de hotel em hotel, porque você vai acabar ficando cansado. O ideal é procurar a Abih e ver o que ainda resta para o Carnaval. Mas é muito pouca coisa”, adianta.

Reportagem nº 05 - Exibida no dia 18 de Fevereiro.


Transnordestina e transposição do rio São Francisco elevaram vendas em concessionárias, postos de combustível e lojas de material de construção.

As transformações na economia do Sertão, provocadas pelas obras da ferrovia Transnordestina e da transposição do rio São Francisco, trouxeram ganhos indiretos ainda para o comércio. A última reportagem da série sobre o Sertão que deu certo mostra que setores de automóveis, motos, combustível e construção civil vivem seus melhores momentos.

Para se ter ideia, Custódia é uma cidade com 34 mil habitantes que deu uma guinada da noite para o dia. Foi tanta gente chegando para trabalhar que o comércio, como se diz, bombou. “A gente contratou mais funcionários. Com o movimento crescendo, aí tive que dobrar o quadro de funcionários. As vendas dobraram também, não só na minha loja, mas na cidade inteira”, explica o comerciante Ivanildo Cordeiro.

Nos últimos três anos, 117 empresas foram abertas na cidade. E apenas nove fecharam, de acordo com números da Câmara de Dirigentes Lojistas. Crescimento e diversificação. 

A cidade tinha uma única academia de ginástica funcionando. E Jorge Luís, dono de uma academia no Recife, procurava um lugar para abrir uma filial. Ele lembrou que antes o dinheiro não circulava muito por aqui. Mas agora, viu que o negócio daria certo na cidade. “Prefeitura, aposentado e pensionista. Com essas imigrações que houve a renda per capita da cidade aumentou assustadoramente. Eu coloquei esta academia em Custódia por conta dessa situação”, revela.

Hoje, o local já tem 250 alunos. Mais da metade gente de fora que vive aqui enquanto as obras estão em andamento. Essa gente também consome roupas, remédios e dirige.

Em muitas cidades não circulam tantos veículos quanto nos canteiros de obras. Só a construção da transnordestina trouxe para o Sertão mais de 500 carros. Quando a soma inclui também os caminhões e as máquinas pesadas, ela passa de 2 mil. Conseguir combustível para toda essa frota não foi fácil.

O dono de um posto na cidade de Salgueiro viu o consumo aumentar logo 30%. Ele se animou e investiu. Agora tem três unidades. Um deles em reforma para ficar adequado ao novo mercado.

Em Serra Talhada, Paulo Siqueira trabalha com a família na administração do posto. Ele nem estava preparado para isso. “O fluxo de veículo aumentou para o comércio em geral e o posto de gasolina, não. Aí surpreendeu. Surpresa muito boa. Melhor do que isso não há.”

Quem consome todo esse combustível são as construtoras, claro, mas também os novos proprietários de automóvel. Como o funcionário público Michael Anderson Alex. Ele tem uma moto e agora está comprando um carro. Mesmo com a nova compra, ele ainda não sabe se vai vender a moto. “Vamos olhar as condições junto com o vendedor aqui e analisar direitinho. Possivelmente devo ficar com os dois”, diz.

Clientes como Alex têm feito a alegria de Antônio Carlos Souza, dono de duas concessionárias. E pronto para inaugurar mais uma. Ele diz que vende muita caminhonete, que é um veículo considerado caro, e para tudo que é município. “O ano de 2010 foi muito bom. 2011 vai ser melhor. Está prometendo. Pernambuco está num crescimento grande, especialmente essa região do Sertão. Arcoverde e toda a área operacional, aqui até em Ouricuri, onde eu vendo carro nessa região e o crescimento está muito grande.”

O presidente da Transnordestina, Tufi Daher Filho, lembra ainda que as lojas de material de construção também estão crescendo. “É uma guerra por cimento. Nós hoje temos um consumo diário de aproximadamente 60 mil sacos de cimento por dia na obra. São números absurdos que nós temos que nos adequar.”

Melhor pra quem apostou no setor. E a prosperidade não se revela apenas no comércio e na prestação de serviços. As melhorias vieram até para a matriz de São José, em Custódia. Durante a missa agora os fiéis sentam em bancos novinhos em folha. São 90 que vieram de São Paulo. A compra foi feita pela internet, com o dinheiro dos dízimos e das ofertas. Os fiéis recém-chegados e a nova situação financeira dos antigos tem feito a diferença.

Mais dinheiro recolhido, mais investimentos, revela a secretária da paróquia, Maria Joana da Silva. “Não só para igreja, mas também para o comércio inteiro, inclusive a calçada, que passou por reforma. Primeiro vieram os bancos, em seguida a calçada. A transposição contribuiu muito para essa reforma também.”

O Sertão segue em obras e vai continuar por um tempo. A conclusão tanto da transposição quanto da ferrovia Transnordetina está prevista para 2013. O trabalho e as experiências vividas nessa terra ao longo desse tempo deixarão marcas nas cidades e nas pessoas.

“É muito gratificante porque a gente vê que isso já trouxe algum desenvolvimento só que tem muito mais por vir. A gente vê que tem inúmeras oportunidades aqui na região e muita gente boa para trabalhar aqui. Eu acho que vai dar um orgulho danado porque o que você vai trazer de coisa boa para o povo do Sertão não dá para estimar, porque não é só a obra que vai trazer emprego, que vai trazer melhoria. São os entornos. Você melhora hotel, você melhora a saúde, melhora a condição de vida, a qualidade de vida. Acho que no futuro, quando eu olhar para traz vai dar um orgulho mesmo”, afirma a engenheira Samira Polastre.


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