sexta-feira, 23 de março de 2012

Dia de Horror - Por José Melo


Por José Soares de Melo 

Nossa terra era estigmatizada pela violência. Não por acaso o Bairro da Redenção – nome dado por Luizito, era conhecido por Beco do Iraque, em função das constantes ocorrências policiais que ali aconteciam, principalmente nos dias de segunda-feira, nos famosos “fins-de-feira”. Entretanto, o dia mais cruel para Custódia (de que me lembro) foi no final da década de setenta.

Naquela época a palavra assalto era desconhecida na região. Perto do meio dia, dois veículos estacionam na Praça Padre Leão, e dele descem dois homens, se dirigindo à Padaria Confiança, de propriedade do então Prefeito, João Miro. Lá, apontando uma arma para a esposa do Prefeito, D. Jovelina, pediram o dinheiro, tendo ela se negado a dar, até porque não se tinha conhecimento dessa modalidade de crime, e, inocentemente a mesma correu sério perigo. O assaltante desistindo, saiu e entrou no mercado vizinho, e apontando a arma para o proprietário anunciou o assalto. Este ao se levantar, também inocentemente, fez um gesto de suspender a calça, levantando-a pela cintura. Foi seu último gesto: uma bala atravessou o coração de Heleno Chaves naquele dia.

Os assaltantes fugiram em disparada nos dois carros, e quando a polícia veio ao local já haviam se passados longos minutos. Naquela época a cidade era praticamente desprotegida. Não havia viaturas, armamentos, policiais em número suficiente, e para concluir, a Delegacia tinha como titular um velho sargento reformado que praticamente nada fez para prender os assaltantes.

Entretanto, a solidariedade dos custodienses mostrou a capacidade de se defender que a cidade tinha à época: dezenas de populares iniciaram uma verdadeira caçada humana aos assaltantes, percorrendo as caatingas, trocando tiros, provocando acidentes, enfim, um verdadeiro horror, que culminou com um saldo triste: além da morte de Heleno Chaves, morreram três bandidos fuzilados, e um PM, de nome Moreira, (meu contra-parente) em um acidente ocorrido em uma barreira policial nas proximidades do atual Posto Tamboril, quando o mesmo foi atropelado. Recordo que a cada assaltante que chegava, a população pensando que o mesmo estava vivo partia pra cima do carro aos berros de “lincha, lincha…”.

Conta-se que o primeiro bandido capturado foi obrigado a gritar pelos companheiros, na tentativa de localiza-los. Era noite, e de repente a luz apagou e ouviu-se um tiro. Imediatamente a luz voltou e o bandoleiro já estava caído no chão, com uma bala no ouvido. Outros dois foram metralhados no Cruzeiro, quando tentavam a fuga, pulando uma cerca.

Escapou apenas um dos assaltantes, de nome Eurípedes, assim mesmo porque que foi preso tentando a fuga, já dentro de um ônibus, próximo a Cruzeiro do Nordeste, pois ao entrar no mesmo deparou-se com um militar fardado, que o prendeu. Foi o único que escapou, e segundo comentários da época, quasa era morto na cadeia, por uma autoridade que revoltada com os fatos chegou a sacar a arma, sendo contida pelos policiais. Dias depois esse assaltante sumiu misteriosamente, durante as várias transferências de presídios. Esse foi o dia de maior violência que a cidade viveu, pelo menos no meu tempo.

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