terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Amaro Gonçalves de Lima


AMARO GONÇALVES DE LIMA, mais novo entre os numerosos filhos de José Gonçalves de Lima, proprietário rural no município do então “Alagoa do Monteiro”, começou a trabalhar, na segunda década do século XX, ainda adolescente, na agricultura. Como na época mal começavam a chegar ao Brasil os primeiros veículos automotores, enfrentava também, com o pai, longas viagens, tangendo tropas de burros carregados de algodão, de Monteiro até Recife. De lá voltavam, com a mesma tropa, carregada de outras mercadorias, que iam vendendo ao longo do caminho, até Monteiro. 


Aos 18 anos de idade, casou-se com Maria Alves da Silva, então com doze anos de idade e que viria a ser, ao longo da vida, sua grande estimuladora e colaboradora. Como sempre gostou de leituras, exercia certa liderança intelectual, no tosco meio rural em que vivia e cedo imbuiu-se das ideias já então dominantes, de que o futuro do Brasil estava na industrialização. Daí a razão por que vendeu as terras herdadas de seus pais e decidiu investir em atividades industriais. Começou, mudando-se para a cidade de Custódia, onde inaugurou uma pequena fábrica de confeitos. A cidade, ainda muito pequena, não contava com um comércio capaz de absorver a produção. 

Em vista disso, mudou-se para Sertânia (então Alagoa de Baixo), onde prosseguiu na mesma atividade. Durante esse período, seu filho Gérson (que no futuro viria a se tornar proprietário da Fábrica de Doces Tambaú, hoje INDÚSTRIA DE PRODUTO ALIMENTÍCIO TAMBAÚ, e do Hotel Macambira) com pouco mais de nove anos de idade, já dava amostra do que viria a ser, no futuro, agindo como vendedor de balas no comércio de Sertânia. Nisso era auxiliado pelo irmão mais novo Jason, cuja atividade consistia em carregar, na cabeça, um pequeno tabuleiro, com amostras dos produtos oferecidos. 

Não obstante ser maior do que Custódia, a nova cidade também não foi capaz garantir a sobrevivência da incipiente indústria, em que pese à “valiosa” ajuda daqueles dois. Por isso, aumentou atividade, investindo também em uma fábrica de alpercatas e outros calçados regionais. A despeito de todo esforço, estava prestes a se desiludir da atividade industrial e voltar para a agricultura. Todavia, foi convencido pela esposa a retornar a Custódia e adquirir um pequeno hotel de beira de estrada, por indicação de sua irmã Corina Marques Pereira e com o apoio do cunhado Joaquim Pereira da Silva, um dos próceres da cidade, o que ocorreu no início da década de 40. 

Mudou o nome do estabelecimento para Hotel Cruzeiro, que depois passaria a se chamar Hotel Sabá. Como era o único da cidade, era frequentado por juízes, promotores, advogados, professores e altos funcionários estaduais e Federais, que vinham periodicamente à cidade, como também pelas pessoas mais influentes do município, como fazendeiros e políticos. Como a rodovia que corta a cidade era, naquela época a única via de comunicação terrestre do nordeste e do norte do Brasil com o sul, o hotel tinha também a freguesia de numerosos camioneiros, pois era a única opção aceitável, entre Arcoverde e Serra Talhada. De início, o casal teve muitas dificuldades, devido sobretudo à falta de experiência no ramo, mas foram auxiliados e orientados pelos próprios hóspedes, como também sempre contaram com o apoio e o incentivo do casal Pereira e até mesmo do então prefeito Ernesto Queiroz. No Hotel Cruzeiro contaram com a ajuda das filhas adolescentes Mercês e Joaninha, que ajudavam a servir às mesas e lavar pratos, além de algumas sobrinhas vindas de Monteiro e poucas empregadas locais, todas bisonhas e inexperientes, dependentes de orientação para execução de qualquer tarefa. 

Com o tempo, adicionou à atividade hoteleira, o da indústria, voltando a investir na fabricação de doces, queijo e manteiga. Essas atividades acabaram por se transferir para o filho Gérson, que, dotado de grande talento empresarial, transformou-as nas empresas já citadas acima. 

Sempre preocupados com o futuro, proporcionaram a todos os nove filhos a oportunidade de estudar no Recife, como faziam várias outras famílias, já que, na época, a cidade só contava com o curso primário (hoje primeiro ciclo do nível fundamental). Incutiu neles, mais com seu exemplo do que com palavras o amor e a consciência de que é necessário estudar e trabalhar, para viver condignamente. Com seu esforço, o casal conseguiu fazer dos filhos: um grande, a nível local, industrial, um bancário, que chegou a gerente de agência do Banco do Brasil, um auditor fiscal e um engenheiro da Petrobrás. As filhas empregaram-se no serviço público, bem como em empresas comerciais, no Recife. 

Amaro Gonçalves de Lima e sua mulher Maria Alves da Silva foram dois lutadores, trabalhadores incansáveis, sem esperar benesses do Estado. Venceram na vida, com esforço próprio, conseguindo formar e garantir um futuro para os nove filhos. Criaram empreendimentos, com os quais beneficiavam produtos primários locais, proporcionando o ingresso na cidade de recursos financeiros, que contribuíram para impulsionar as atividades econômicas do município. Dessa forma, podem também, ser considerados construtores da pujante Custódia que hoje conhecemos.

Por Jason Gonçalves

5 comentários:

Henrique Trindade disse...

A história da família Gonçalves se confunde com a origem da Fábrica Tambaú. Muito interessante! Parabéns a Tio Jason e a Paulo!

Rogério Pessoa disse...

É uma honra ter este homem como exemplo, que cativava por sua conduta e educava com o olhar, sempre apoiado pela guerreira "Dona Maria". Parabéns, tio Jason, Parabéns, Paulo. Agora está eternizada a sua história.

Rogério Pessoa disse...

É uma honra ter este homem como exemplo, que cativava por suas ações e educava com o olhar. Parabéns, sua história está eternizada.

Anonymous disse...

A raspa do tacho feita com farinha misturada ao que sobrava de manteiga e queijo feito pelo Seu Amaro, não tinha preço.
Fernando Florêncio

Joaquim Belo disse...

Paulo, parabéns você está resgatando a história de Custódia e isso é muito importante para a geração futura conhecer os pioneiros, homens que construiram a cidade e deixaram exemplo de vida, com coragem, caretar e dignidade.

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