sábado, 17 de dezembro de 2011

Antonio do Junco




Naqueles tempos antigos, corriam muitos boatos interessantes. Mentira ou verdade, não se deve assegurar, mas pela curiosidade dos fatos, muitos deles devem ser lembrados.

Conta-se que a maioria dos grandes fazendeiros, com medo de ataques de cangaceiros, sempre que arrumavam dinheiro, escondiam muito bem escondido, na maioria das vezes enterrados próximo a um lugar de boa segurança, e de um ponto de referência fácil de ser reencontrado. Um lajeiro, uma pedra, uma lagoa, enfim, qualquer ponto que assegurasse que o local não seria esquecido por quem enterrasse o dinheiro. E aí surgiu a lenda das Botijas.

Dizia-se que se um desses proprietários morresse sem desenterrar a botija, a sua alma ficaria vagando, penando, até que alguém desenterrasse a dita cuja. E que muitos eram escolhidos por essas almas, para desenterrar aqueles tesouros. Teria que ser alguém muito corajoso, pois a botija só poderia ser desenterrada a meia-noite em ponto, e o sortudo teria que ir sozinho, e ainda ter que aturar as aparições do demo, que tentaria espantar o mesmo, para que a alma do dono da botija fosse para o inferno. E não adiantava levar alguém ou desenterrar o tesouro durante o dia: nesses casos, a botija era encontrada, porém todo o ouro, prata e dinheiro se transformaria em carvão.

Essa explicação talvez justifique o boato que correu há muitos anos em Custódia. Contava-se que um velho fazendeiro, rico, de tradicional família local – conhecido por Antônio do Junco, juntou uma verdadeira fortuna durante a sua vida, com a venda de gado criado na caatingas do Moxotó. Dizem que o Fazendeiro era mais seguro que papagaio no arame: não gastava com nada, e tudo que ganhava, era amealhado em local desconhecido.

Aliás, dizem que certa feita ele vendeu uma grande boiada a boiadeiro desconhecido, por um preço bem acima do mercado, porém com pagamento para alguns dias depois. Passadas semanas, meses e meses sem que o boiadeiro esperto voltasse para efetuar o pagamento, seus vizinhos começaram a questionar o velho fazendeiro

– “ E aí, Seu Antônio, parece que o cabra lhe enganou!

Ao que ele, inocentemente retrucava, afirmando:

– “É, ele pode ter me enganado, mas ele também vai ter prejuízo, pois eu vendi a boiada muito caro!!!”

Como disse anteriormente, verdade ou mentira, nada se pode provar. Apenas repassei o que ouvi várias vezes. Como repasso o que ouvi durante muitos anos, sobre a botija de Antonio do Junco.

Contavam que um parente dele, desconfiado de que ele estaria escondendo o dinheiro, procurava por todos os meios descobrir onde ele guardava aquela fortuna, sem nunca conseguir.

Dizem que certa vez, esse parente estaria caçando pelas caatingas, quando avistou o velho Antonio do Junco, sorrateiramente, aproximar-se de uma velha baraúna, subir em seu tronco enrugado, e, cuidadosamente enfiar polpudos maços de contos de réis no oco da baraúna, recobrindo cuidadosamente o buraco com cascas e folhas, e retornando para casa.

O parente esperou que ele fosse embora, acompanhou sorrateiramente, e quando o velho entrou em casa, ele voltou correndo para a baraúna que lhe aguardava com uma fortuna.

Em pouco tempo corria a notícia de que “ fulano” tinha achado uma botija, pois ele que nada tinha, já estava rico, morando na rua, em casa cara, no centro da cidade, com um bom comércio e dinheiro a rodo. Verdade? Mentira? Não sei. Só sei que ouvi contar que foi assim.

Texto:
José Soares de Mélo
jotamelo@exatta.com.br

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