sábado, 10 de dezembro de 2011

Custódia: Guardiã de mente e da Arte


Em maio de 1988 o Jornal do Bandepe (Banco do Estado de Pernambuco), trouxe uma matéria sobre nossa querida Custódia, com o singelo título “Custódia Guardiã de gente e da Arte“. Nessa época, a cidade ainda tinha uma agência do Bandepe, situada a Praça Padre Leão, onde atualmente, funciona o prédio da Fortunato Tecidos. A tiragem deste informativo foi de 17.000 exemplares.





Transcrição do texto:

“Para se chegar ao triunfo, tem que se ficar sob custódia e passar pelo caminho das flores“. Mais que um exercício poético, a frase do dentista, advogado, professor e etcetera (é um Leonardo da Vinci da profissão liberal) Pedro Pereira Sobrinho, é um traçado verbal de conhecido roteiro do sertão pernambucano. Em ordem geográfica e no sentido do litoral para o coração do semi-árido, alinha as cidades de Custódia, Flores e Triunfo. Particularizando Custódia, cidade natal (São João e carnaval) de Pedro Pereira, um estudioso das manifestações culturais, principalmente das populares, pode-se dizer que a frase também expressa o traço predominante do espírito da localidade: a tendência de bem guardar os visitantes, a conhecida hospitalidade. O próprio nome do lugar, segundo lendas, está ligado a esta característica de seu povo.

Conta a tradição que, séculos atrás, um grupo de religiosos, provavelmente da Ordem Ibiapina, for parar naquela área do Vale do Moxotó, a 340km do Recife. Perseguidos pelas labaredas da Inquisição, só conseguiram escapar devido à proteção (“custódia”) da população, em cumplicidade com os esconderijos naturais. Outra versão diz que em meados do século passado, uma preta velha, de nome Custódia, instalou uma barraquinha à beira do riacho que – como a cidade – hoje tem seu nome, e durante muito tempo atendeu viajantes oriundos das hoje Serra Talhada, Princesa Isabel e outras localidades pernambucanas e paraibanas. Fabricantes de pão de ló (também conhecido como chapéu de couro e bolo de coco), tornou-se figura querida, com o nome a percorrer estradas do sertão na garupa das conversas dos viajantes: “Vamos pra Custódia?“.

A cultura popular também encontro custódia no município atualmente administrado por Djalma Bezerra de Souza. Prestigiada por estudiosos e leigos de várias latitudes, a Semana do Folclore – desde 1970 realizada no mês de agosto, com apoio da Prefeitura e ativa participação dos colégios – é considerada espécie de apoteose das manifestações artísticas locais. Organiza no estilo das feirinhas típicas, oferece o que existe de mais autêntico em termos de artesanato e culinária. Mas pode-se dizer, considerado o volume da produção artesanal, que em Custódia todo dia é dia de folclore. Centenas de artesãos espalham-se pela área urbana e sítios, pontificando a figura de Osminda Carneiro, uma senhora que, no melhor dos sentidos, pinta e borda pra valer.

Tintas e linhas de vários matizes e texturas são utilizadas na confecção do folclore custodiense, cuja riqueza despertou o interesse de técnicos da Organização dos Estados Americanos (OEA). A banda de Pífanos de Quimtibu faz parte desde patrimônio folclórico. Há dez anos, em concurso estadual promovido pela TV Universitária, foi classificada em primeiro lugar. Extraindo de seus instrumentos um som menos harmonioso que os “pifeiros“, os bacamarteiros de Custódia, também perfilam entre os mais famosos de Pernambuco. Além de ser um robusto conjuntos – 63 componentes – o grupo tem como atração especial uma bacamarteira, uma das poucas pernambucanas a dar toques femininos ao marcial esporte/arte.

O aboio (toada de gado), o coco (ainda cultivado na zona urbana), a “Dança do Toré“(desenvolvida por uma comunidade de mamelucos de origem desconhecida, habitantes da Serra do Sabá, de onde se extrai uma água mineral que, pela quantidade, foi citada em livro de especialistas europeus) e o Cariri (manisfestação carnavalesca exclusiva do município) complementam o tesouro folclórico de Custódia – cidade do cerca de 45mil habitantes, a maior parte ligada a atividades agropecuárias, detentora de um menos que vale mais: é a localidade pernambucana onde se registra o menor índice de evasões escolares. No caso, Custódia, por seus méritos, é roteiro obrigatório para pesquisa sobre esse drama nacional.

Pela peculiaridade, o Cariri merece desfilar com relevo numa reportagem, da mesma forma que já muitos anos desfila pelas ruas de Custódia, nos primeiros segundos do domingo de carnaval, sem que ninguém saiba como tudo começou. O que todo custodiense sabe é que – como as diversas classes sociais, que se confundem na folia – instrumentos tipicamente carnavalescos e juninos convivem harmoniosamente, enquanto balões, lágrimas e outros tipos de fogos buscam transformar o céu num colorido espelho do que vai pela terra…

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